Em certos momentos nos deixamos manipular pela transição de idéias
legitimadoras de diversos instrumentos de comunicação em massa, sejam revistas,
jornal, televisão ou mesmo a própria internet.
Deparamo-nos no dia-a-dia com as mensagens pré-estabelecidas e
“digerimo-as” como situações objetivas da realidade. Podemos citar, neste
momento, como as mídias transformam a ação social de cidadão em uma luta contra
a comunidade. Digo isso consciente, indubitavelmente, da ingenuidade receptiva
dos leitores destas mensagens pragmáticas em que os oprimidos tornam-se
“opressores”. Uma observação clara disso é o ato civil das greves e
manifestação. Tivemos recentemente uma manifestação contra o aumento da taxa do
transporte público.
Sobre o assunto podemos observar que a mídia fantasiou em muito a
situação ocorrida, mas, ignorantemente, deixou algumas lacunas a serem
discutidas. Podemos especular diversas opniões sobre o que a própria mídia
proporcionou de informações. Em primeiro lugar analisamos a informação sobre a
violência dos “ativistas” durante a manifestação. Considerando, como propõe Isaac
Newton, que “toda ação corresponde a uma reação”, a manifestação surge como uma
forma, do povo, de expressar uma reprovação da imposição do Estado de aumento
da taxa de condução. Podemos ainda problematizar que foi exposto que os
manifestantes tiveram de ser detidos pelo sistema de policiamento através de
bombas de gás e balas de borracha. Informam ainda que vidros do sistema de
metrô foram quebrados durante a manifestação, considerando que foram os
“marginalizados” freqüentantes da manifestação que o fizeram, mas se quem
disparou os tiros com balas de borracha foi a polícia, o que nos garante que
foram os manifestantes que depredaram o metrô e não os agentes do Estado que
ali oprimiram? Da mesma forma, podemos analisar que ninguém parte pra agressão
se não se sente oprimido, sendo assim, como começaram as ações de violência
durante a manifestação?
Estas questões são ignoradas pelo sistema midiático, o qual escandaliza o
cidadão transformando-o em vilão, quando o que o mesmo pretende é expressar sua
opinião sobre o mundo. Percebemos ainda que a indignação parte daqueles que
utilizam o transporte público, adolescentes, estudantes, proletários, entre
outros. Essa não é uma preocupação dos detentores do capital econômico, uma vez
que os mesmos transportam-se de carro, ou até mesmo helicóptero. A mídia não
divulga que quem realmente sofre com essas situações é o próprio cidadão.
Sendo ainda mais críticos, percebemos como o pragmatismo midiático é
forte ao ponto de fazer com que o cidadão volte-se contra alguém que luta pelos
seus direitos, pois, como podemos lembrar Michael Foucault em “vigiar e punir”,
a luta contra o Estado acaba tornando-se uma luta contra o cidadão e contra a
sociedade.
Está no momento dos cidadãos perceberem que são oprimidos pelo Estado e
condicionados pelos padrões normativos da burguesia, sucumbidos ao receptivo e grilhados
por axiomas ideológicos. Está num momento de todo o cidadão assumir uma
responsabilidade e consciência libertadora para que, acordados para a
realidade, nos vejamos capazes de lutar pelos nossos direitos e pesar, num
“pensar certo”, o que as mensagens da comunicação em massa nos proporcionam,
assim como a partir de que posicionamento elas se expressam. Somente assim
estaremos prontos para poder nos sentir capazes de julgar a “ética” de algum
cidadão.
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